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Família Magri: A trajetória de quem acreditou e viu a transformação de Tapurah




Celso Nery

Final da década de 70 e as notícias sobre a ocupação de Mato Grosso animavam moradores de cidades da região sul do país, principalmente aqueles que viviam da agricultura. Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul já eram Estados que tinham uma realidade que não permitia a pequenos sitiantes sonharem com a expansão de suas propriedades. Nesta época, havia uma preocupação do governo federal em povoar a região do cerrado e, principalmente, a Amazônia. Por isso, as colonizadoras trabalhavam como nunca para atrair moradores, principalmente aqueles que tinham conhecimento rural e interesse em conhecer o novo ‘eldorado’.


Uma dessas famílias foi a de Ernesto Magri. Entusiasmado com a possibilidade de ser dono de um pedaço de chão em Mato Grosso, o agricultor decidiu apostar no sonho e veio desbravar o que viria a se tornar a cidade de Tapurah. Em 1981, acompanhado da esposa Carme e com o filho Claudio recém-nascido, com apenas 40 dias, saiu de Coronel Freitas, na região de Chapecó/SC. A família venceu os mais de 2 mil quilômetros entre as duas cidades viajando por pouco mais de dois dias, chegando ao destino em 29 de agosto daquele ano. “Naquela época se falava muito em Mato Grosso e eu decidi fechar negócio, comprando uma propriedade de 300 hectares de terra e uma casa de madeira na vila que se iniciava”, recorda.


A área de terra ficava há cerca de 15 km de onde se formou o núcleo urbano de Tapurah, mato adentro, sem qualquer acesso por estrada. Mas a vida não era simples. Sem recursos para abrir a nova área de terra e sem uma perspectiva clara de empréstimos para investir na propriedade, Ernesto acabou optando por trabalhar para outros, primeiro em serrarias, depois na construção de casas de madeira e na abertura de poços d’água. Um pouco mais tarde foi trabalhar em fazendas na região. Nesta época, Carme e o filho, ainda de colo, acompanhavam. “Era o que tinha de trabalho. As fazendas também estavam começando. Chegamos a morar em barraco de lona no meio do mato, sem energia elétrica, tomando banho e lavando roupa no rio” relembra Carme.


Depois de algum tempo em Tapurah, o casal já havia conseguido comprar um sítio perto da vila. O mesmo em que vivem até hoje. Em 1987, o pai de Ernesto, João Magri Neto, que tinha o sonho de conhecer e morar em Mato Grosso, juntamente com sua mãe, Ancila Magri, chegaram de mudança em Tapurah. Com a vinda dos pais, decidiu vender a área de terra, adquirida no início, para investir no sítio. Ali construiu casa e adquiriu gado leiteiro. O leite passou a ser uma fonte de renda para a família Magri. “Plantou milho e arroz. Ele trabalhava aqui nessa chácara” diz Carme, sobre seus sogros.


Como a propriedade pequena ainda não oferecia renda suficiente para sustentar a família (quatro adultos e duas crianças, pois Karine já havia nascido), Ernesto decidiu ir trabalhar em fazenda, realizando a colheita. Na chácara, Carme e os sogros cuidavam do gado leiteiro e das atividades na propriedade. Uma vez por semana o pai de Ernesto ia para a cidade vender queijo. “Com o que eu ganhava na colheita dava pra viver tranquilo”, pontuou. “Foram muitos anos vendendo leite de porta em porta. Íamos de bicicleta, mais tarde, com uma tobata” diz Carme.


Com o passar dos anos, Ernesto começou a cuidar da propriedade, até porque seus pais haviam retornado para a cidade de origem. Num determinado dia, enquanto cuidava do mandiocal, ele teve a ideia de fazer um pesqueiro na chácara. Foram construídos dois viveiros inicialmente. Mas a experiência não foi muito bem sucedida, mesmo seguindo orientação de um técnico agrícola na época, com técnica de usar a água da chuva. Por intuição, Ernesto elevou o nível do córrego para captar a água, e deu certo. “Fiz a vala no braço no meio do mato. Foi tudo feito no braço”, explicou. A transformação em Pesque e Pague começou em 1997.


Depois de algumas tentativas, o empresário rural acertou na criação de peixes e a propriedade começou a ser visitada por amantes da pesca. Ernesto e Carme passaram a servir porções e bebidas aos frequentadores, tornando-se conhecido como Pesque e Pague Magri. A transição para restaurante se deu em 2002. O espaço ainda acanhado, assim como era Tapurah na época. “E éramos só nos dois trabalhando, os filhos estudando, mas o movimento foi melhorando com o tempo”, explicou Ernesto, lembrando que a grande mudança veio a partir de 2014, quando ocorreram investimentos em tecnologia.



Além dos negócios melhorarem, Ernesto e Carme viram os filhos crescerem, se formarem e se casarem. Claudio estudou Enfermagem no Paraná, onde se formou. Ele se casou com Vanessa com quem teve os filhos Valentina e Bernardo. Já Karine se formou pedagoga em Tapurah, casou-se com Maico, e teve os filhos Cecília e Artur.


“A gente se sente satisfeito e feliz, pois entende que fez um bom trabalho né”, comentou Carme.


Emocionado, Ernesto lembra das dificuldades que a família enfrentou na chegada a Mato Grosso e nos primeiros anos em Tapurah, até que as coisas se encaixaram.


“Eu me sinto feliz porque o filho está fazendo aquilo que nós vínhamos fazendo, e acho que não vai parar”, disse.


Hoje o restaurante serve semanalmente em torno de 800 refeições, conta com pouco mais de 3 hectares de lâmina d’água com produção mensal de mais de 3 toneladas de peixe, que servem exclusivamente o Restaurante e Pesque Pague Magri. Referência na região, tem em sua história muito trabalho de uma família sonhadora, trabalhadora e honesta que cultiva em sua memória o crescimento de uma cidade cada dia mais promissora.


O casal aproveitou para homenagear Tapurah pelos 35 anos de emancipação político administrativa. “É uma das cidades fora do eixo da BR 163 que mais cresce. E vai crescer mais, não vai parar. Qualquer coisa que inicia aqui vai pra frente. Nos sentimos honrados em fazer parte dessa cidade como pioneiros, pois há quase quarenta anos alimentamos os filhos desta terra”, reconheceu Ernesto.


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